Segue abaixo entrevista entre a locutora Ana Cristina e a Dra. Rosmary Correa (Delegada Rose) veiculada no programa “Resisto e Empodero” transmitido pela Rádio Boa Música FM, no dia 12 de agosto de 2021.
LOCUTORA ANA CRISTINA: Por que falar especificamente de
violência contra mulher?
DRA ROSMARY CORREA: Todos nós sabemos, Ana que a violência não
começa na rua, você não aprende a violência na rua. A violência se origina
dentro da sua própria casa. Quando você tem dentro da sua casa, um
relacionamento abusivo, quando você tem dentro da sua casa um espancamento de
uma pessoa, quando você tem dentro de sua casa as brigas e confusões. E você
cresce num ambiente desse e até para fugir desse ambiente você acaba vindo para
rua e aperfeiçoa a violência que você viu dentro da sua casa. Então, porque é
importante falar da violência contra mulher, quando você trabalha a violência
que normalmente acontece dentro de casa você pode estar evitando que uma
violência maior venha para rua, tentando coibir acabando com ela dentro de
casa. Por isso que é importante, a violência contra mulher é a raiz na minha
opinião de todas as essas violências que estamos acostumados a ver no nosso
dia-a-dia. Quando falamos em lutar contra a violência contra a mulher, estamos
lutando pela família, lutando pela estruturação familiar, que é onde sem dúvida
nenhuma onde acontece a maior parte da formação de sua personalidade. Se alguém
é criado num ambiente de abuso e de agressão é claro que sua personalidade será
comprometida e irá repetir fora o que ele está vendo dentro de casa. Então, é
muito importante sim, falar e lutar contra a violência contra a mulher, nós
estamos falando não só da mulher, mas da ajuda a família.
LOCUTORA ANA CRISTINA: Dra. Costumamos falar
que lei é somente para advogado, esse
mecanismo jurídico nos esclarece o
porque a sociedade funciona de determina forma. O código civil de 1916 ele foi
alterado em 2002, não faz tanto tempo assim. São anos de história, onde a
mulher era vista de forma submissa. Poderia fazer uma comparação desse processo
histórico que a construção enquanto mulher aconteceu.
DRA ROSMARY CORREA: Então, você imagina que em 1916, o código civil
dizia isso,a mulher era considerada semi incapaz, acreditava-se que a mulher
não tinha capacidade de decidir por si mesma. Nós, só conseguimos o direito de
votar em 1932, foi ontem. Antes de 1932, nós não podíamos votar, achavam que a
mulher não sabia e nem tinha condição de votar, onde de se candidatar para ser
votada. A mulher teve muita dificuldade para fazer parte da sociedade, como uma
pessoa independente. A um tempo atrás o que era ser uma mulher separada ou
divorciada, como era vista perante a sociedade. Ou uma mulher solteira, que não
se casou, como elas eram vistas pela sociedade, as olhavam de lado; vamos dizer
assim não presta, a divorciada. Tínhamos dificuldade de encontrar empregos;
empregos de nível baixo. Estudar as famílias nunca se preocupavam com isso. As
mulheres eram criadas para casar, cuidados com a casa, no máximo era podia ser
professora, para não trabalhar. Mulher minha, não trabalha, esse era o
pensamento dos homens. Nossa situação de tantos anos, como nós sobrevivemos a
essa situação. Quantas mulheres maravilhosas,
quantas mulheres lutadoras, que perderam sua própria vida, para que nós
tivéssemos hoje o direito de estar hoje aqui conversando, falando sobre isso,
nos colocando e tendo esse espaço para poder falar, poder lutar, para poder
ajudar tantas outras. As vezes as pessoas não tem memória, muitas mulheres
batalharam muito, mulheres maravilhosas, muitas vezes anônimas, batalharam
muito para que hoje tivéssemos a condições de estar onde estamos hoje. Faltando
muito? Falta, mas se compararmos o que tínhamos lá atrás, com o que temos hoje,
caminhamos, quilômetros e quilômetros. Falta ainda, falta. Temos garra, mais
mecanismos, força para lutar pelo espaço que nos queremos. Não é mulher contra
homem, homens e mulheres tem que trabalhar juntos para um futuro melhor. O
homem não é mais que a mulher, nem a mulher
é mais que o homem, somos seremos humanos, que se completam, que trabalham
juntos para a construção da paz, para a construção de um futuro melhor. Muita
gente já está entendendo isso, mas ainda existe dificuldade e resistência para
entender a situação.
ANA CRISTINA "Entender que os
mecanismos jurídicos acabam reforçando, foi o que aconteceu, reforçava a visão
da mulher incapaz, quando você tira esse direito de fala da mulher, é como se
ela não existisse. Os próprios mecanismos jurídicos daquela época reforçavam
esse padrão de comportamento da sociedade, desse patriarcal, era legalizado,
era permitido. A partir de 2002, que tivemos essa mudança, então se pensarmos
em tempo histórico, tempo que ficamos submetidos a esses mecanismos jurídicos e o pouco tempo que estamos sob esse novo
olhar jurídico, estamos a engatilhando,
temos muito pela frente. Mas, aquelas que rasgaram o sutiã, senão fosse elas,
para dar o grito, de não quero mais, acredito que ainda estaríamos nessa
situação".
Por Ana Cristina
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ENTREVISTADA:
Dra. Rosmary Correa
Delegada Rose
Responsável pela implantação da primeira delegacia de Defesa
da Mulher em São Paulo , no ano de 1985.
Foi eleita deputada estadual em 1990 e reeleita em 1994,
1998 e 2002 desenvolvendo um trabalho de
combate a violência contra mulher.
Foi secretaria de estado da criança, família e bem estar
social.
É vice-presidente do Conselho Estadual da condição feminina.