quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Entrevista: Lei Maria da Penha e suas implicações


 



Segue abaixo entrevista entre a locutora Ana Cristina e a Dra. Rosmary Correa (Delegada Rose) veiculada no programa “Resisto e Empodero” transmitido  pela Rádio Boa Música FM, no dia 12 de agosto de 2021.

 

LOCUTORA ANA CRISTINA: Por que falar especificamente de violência contra mulher?

DRA ROSMARY CORREA: Todos nós sabemos, Ana que a violência não começa na rua, você não aprende a violência na rua. A violência se origina dentro da sua própria casa. Quando você tem dentro da sua casa, um relacionamento abusivo, quando você tem dentro da sua casa um espancamento de uma pessoa, quando você tem dentro de sua casa as brigas e confusões. E você cresce num ambiente desse e até para fugir desse ambiente você acaba vindo para rua e aperfeiçoa a violência que você viu dentro da sua casa. Então, porque é importante falar da violência contra mulher, quando você trabalha a violência que normalmente acontece dentro de casa você pode estar evitando que uma violência maior venha para rua, tentando coibir acabando com ela dentro de casa. Por isso que é importante, a  violência contra mulher é a raiz na minha opinião de todas as essas violências que estamos acostumados a ver no nosso dia-a-dia. Quando falamos em lutar contra a violência contra a mulher, estamos lutando pela família, lutando pela estruturação familiar, que é onde sem dúvida nenhuma onde acontece a maior parte da formação de sua personalidade. Se alguém é criado num ambiente de abuso e de agressão é claro que sua personalidade será comprometida e irá repetir fora o que ele está vendo dentro de casa. Então, é muito importante sim, falar e lutar contra a violência contra a mulher, nós estamos falando não só da mulher, mas da ajuda a família.

LOCUTORA ANA CRISTINA: Dra. Costumamos falar que lei é somente para advogado,  esse mecanismo jurídico  nos esclarece o porque a sociedade funciona de determina forma. O código civil de 1916 ele foi alterado em 2002, não faz tanto tempo assim. São anos de história, onde a mulher era vista de forma submissa. Poderia fazer uma comparação desse processo histórico que a construção enquanto mulher aconteceu.

DRA ROSMARY CORREA: Então, você imagina que em 1916, o código civil dizia isso,a mulher era considerada semi incapaz, acreditava-se que a mulher não tinha capacidade de decidir por si mesma. Nós, só conseguimos o direito de votar em 1932, foi ontem. Antes de 1932, nós não podíamos votar, achavam que a mulher não sabia e nem tinha condição de votar, onde de se candidatar para ser votada. A mulher teve muita dificuldade para fazer parte da sociedade, como uma pessoa independente. A um tempo atrás o que era ser uma mulher separada ou divorciada, como era vista perante a sociedade. Ou uma mulher solteira, que não se casou, como elas eram vistas pela sociedade, as olhavam de lado; vamos dizer assim não presta, a divorciada. Tínhamos dificuldade de encontrar empregos; empregos de nível baixo. Estudar as famílias nunca se preocupavam com isso. As mulheres eram criadas para casar, cuidados com a casa, no máximo era podia ser professora, para não trabalhar. Mulher minha, não trabalha, esse era o pensamento dos homens. Nossa situação de tantos anos, como nós sobrevivemos a essa situação. Quantas mulheres maravilhosas,  quantas mulheres lutadoras, que perderam sua própria vida, para que nós tivéssemos hoje o direito de estar hoje aqui conversando, falando sobre isso, nos colocando e tendo esse espaço para poder falar, poder lutar, para poder ajudar tantas outras. As vezes as pessoas não tem memória, muitas mulheres batalharam muito, mulheres maravilhosas, muitas vezes anônimas, batalharam muito para que hoje tivéssemos a condições de estar onde estamos hoje. Faltando muito? Falta, mas se compararmos o que tínhamos lá atrás, com o que temos hoje, caminhamos, quilômetros e quilômetros. Falta ainda, falta. Temos garra, mais mecanismos, força para lutar pelo espaço que nos queremos. Não é mulher contra homem, homens e mulheres tem que trabalhar juntos para um futuro melhor. O homem não é mais que a mulher, nem  a mulher é mais que o homem, somos seremos humanos, que se completam, que trabalham juntos para a construção da paz, para a construção de um futuro melhor. Muita gente já está entendendo isso, mas ainda existe dificuldade e resistência para entender a situação.

ANA CRISTINA "Entender que os mecanismos jurídicos acabam reforçando, foi o que aconteceu, reforçava a visão da mulher incapaz, quando você tira esse direito de fala da mulher, é como se ela não existisse. Os próprios mecanismos jurídicos daquela época reforçavam esse padrão de comportamento da sociedade, desse patriarcal, era legalizado, era permitido. A partir de 2002, que tivemos essa mudança, então se pensarmos em tempo histórico, tempo que ficamos submetidos a esses mecanismos jurídicos  e o pouco tempo que estamos sob esse novo olhar jurídico, estamos  a engatilhando, temos muito pela frente. Mas, aquelas que rasgaram o sutiã, senão fosse elas, para dar o grito, de não quero mais, acredito que ainda estaríamos nessa situação".


Por Ana Cristina


Quer saber mais? Se inscreva no canal do Youtube e assista toda entrevista. https://youtu.be/EVsZxwf8GOo


ENTREVISTADA:

Dra. Rosmary  Correa

Delegada Rose

Responsável pela implantação da primeira delegacia de Defesa da Mulher em São Paulo , no ano de 1985.

Foi eleita deputada estadual em 1990 e reeleita em 1994, 1998 e 2002 desenvolvendo  um trabalho de combate  a violência contra mulher.

Foi secretaria de estado da criança, família e bem estar social.

É vice-presidente do Conselho Estadual da condição feminina.


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